Essas contas distorcem as discussões que ocorrem nas mídias sociais e contribuem para a diminuição do apoio da sociedade e dificultam ainda mais o engajamento às políticas e ciências climáticas.
Isso é indicado por um estudo recentemente publicado na revista “Climate Policy”, que mostra que as contas do Twitter operadas por máquinas, os famosos bots, têm uma presença significativa no discurso sobre as mudanças climáticas no Twitter e que sua presença não é aleatória.
Ao avaliar o padrão de postagens no Twitter sobre o tema nas semanas próximas ao anúncio do ex-presidente Trump sobre a retirada dos EUA do Acordo de Paris (em 2017) (...)
os autores deste estudo descobriram que, naquele período, contas suspeitas de serem bots foram responsáveis por aproximadamene 25% de todos os tweets sobre mudanças climáticas do mundo.
Resultados como estes foram obtidos a partir de uma análise de 6.8 milhões de tweets sobre mudanças climáticas, enviados por 1.6 milhão de usuários, entre maio e junho de 2017.
Trump tomou sua decisão de abandonar o acordo climático (recentemente retomado pelo presidente Joe Biden) em 1º de junho daquele ano.
Os pesquisadores contaram com o auxílio do “Botômetro“, uma ferramenta criada pelo Observatório de Mídias Sociais da Universidade de Indiana que analisa contas de Twitter e determina a probabilidade de que sejam executadas por máquinas.
Os resultados do estudo indicam que quase 9.5% dos usuários da amostra coletada pelos pesquisadores provavelmente eram provavelmente.
Mas o que mais impressiona é aquele dado anterior, ressaltado anteriormente, que os tweets destes bots correspondiam a 25% do total de tweets diários sobre mudanças climáticas.
Algumas das discussões em que os bots mais se faziam presentes incluíam o termo “Exxon” (uma empresa do ramo do petróleo). Além, é claro, de notícias que lançavam dúvidas sobre as ciências climáticas.
Como destaca Thomas Marlow, um dos autores da pesquisa, resultados como estes são muito importantes porque evidenciam que, a fim de se enfrentar a atual crise climática (...)
há de se considerar que a presença de bots no discurso online é uma realidade que tanto os cientistas, como movimentos sociais e quaisquer outros atores que se preocupam com a atual situação, precisam levar em consideração e enfrentar melhor.
Tal descoberta indica também que os bots não são apenas muito frequentes em discussões sobre as mudanças climáticas, mas também que isso ocorre ainda mais desproporcionalmente em tópicos que apoiavam o anúncio de Trump ou eram céticos em relação às ciências e ações climáticas.
Curiosamente, descobriu-se que a proporção de tweets de bots foi menor nos dias imediatamente após a decisão de Trump sobre o Acordo de Paris.
Segundo os autores do estudo, isso ocorre porque as pessoas que não costumam tweetar sobre as mudanças climáticas o fizeram naquela época e os bots simplesmente foram incapazes de responder rapidamente à gigante onda de repercussão sobre o tema naquele momento.
A metodologia utilizada no estudo não permite determinar quem implantou os bots, mas os pesquisadores suspeitam que essas contas aparentemente falsas podem ter sido criadas por empresas de combustíveis fósseis e/ou organizações a elas relacionadas.
De qualquer forma, vale ser ressaltado que este estudo vai de encontro com pesquisas anteriores que também analisaram diálogos sobre mudanças climáticas no Twitter.
Um outro artigo, também de 2020, já havia estimado, por exemplo, que 35% das contas que tuitaram sobre o clima durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2018 provavelmente eram de bots.
Neste mesmo artigo também foi descoberto que mensagens de “detratores da causa climática” tendem a se concentrar mais em atacar as personalidades que se posicionam sobre o tema do que em qualquer outro tipo de discurso.
Por outro lado, na pesquisa em questão também foi sugerido que havia bots atuando não somente como detratores, mas também como apoiadores da causa climática.
O que sugere que, independentemente do “lado” a qual pertençam, essas contas falsas contribuem muito para o contínuo fluxo de desinformação climática que ocorre nas redes sociais.
Autores deste segundo artigo consideram que uma das medidas mais importantes a se fazer a este respeito reside em desligar os bots.
O motivo pelo qual o Twitter e outras plataformas ainda não deram esse passo, segundo eles, é porque existem interesses financeiros para ignorar o problema. Ou seja, porque a desinformação é um bom negócio.
Ela tem mais probabilidade de ser clicada e discutida porque tende a chamar e prender mais a atenção das pessoas.
Sendo o modelo de negócio das redes sociais baseado em curtidas, cliques e compartilhamentos, é natural que quanto mais um item recebe interação, mais dinheiro a plataforma ganhe e o ciclo se perpetue.
De forma geral, pesquisadores que estudam este tema concordam em apontar que apenas a pressão pública é capaz de impulsionar as redes sociais a tomarem ações sobre bots e desinformação climática, ou de qualquer outra área. Como sempre, é necessário agir.
https://twitter.com/TimmonsRoberts/status/1353767798493876235

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