O genocídio cambojano (1975-1979) - a thread
No começo dos anos 60, a proposta de Pol Pot, líder do Khmer Vermelho, era um comunismo baseado no comunismo maoísta, tendo a diferença de que priorizava o trabalhador rural como base para a revolução.
Desse modo, propagandas de incentivo à mobilização da população rural cambojana para a defesa da causa do partido foram espalhadas pelo Camboja. Os bombardeios massivos dos EUA, em desdobramento da Guerra do Vietnã, e o golpe de Estado de Lon Nol contribuíram para a popularidade.
O apoio ao Khmer Vermelho dado pelo príncipe destituído, Norodom Shinouk, popularizou ainda mais o partido e acabou gerando uma certa tensão no país, que se configurou em uma guerra civil (1967-1975). O conflito acaba com a conquista da capital cambojana pelo Khmer Vermelho.
Após assumir o poder do Camboja, Pol Pot instituiu sua utopia agrária e promoveu o esvaziamento das cidades cambojanas, forçando a população urbana a instalar-se em fazendas de trabalho forçado.
Hospitais, monastérios, escolas, fábricas e entre outros locais foram fechados. A moeda foi abolida, a liberdade de expressão cessou com o fechamento de jornais e procurou-se extinguir a existência de um núcleo familiar tradicional.
A instituição das fazendas de trabalho forçado obrigou milhares de pessoas a viverem em locais na qual eram submetidas à pesadas cargas de trabalho. As péssimas condições de trabalho e de vida causaram milhares de mortes, devido à maus-tratos, exaustão, fome e doenças.
Pol Pot também realizou diversas perseguições e execuções de quem:
• Fosse contra o novo governo, trabalhasse ou tivesse ligação de qualquer espécie com o governo anterior;
• Tivesse alguma alfabetização que a caracterizasse como intelectual. Isso incluía quem utilizasse óculos;
• Grupos religiosos, o que ocasionou uma intensa perseguição à monges do budismo, maior religião do país. Foi tão intenso que não havia mais nenhum monastério em 1977.
• Minorias étnicas, principalmente quem tivesse etnia tailandesa, chinesa (vistos como trabalhadores urbanos, tiveram mais de 200 mil mortos), cham (100 mil mortos) e vietnamita (100 mil foram expulsos do país e 10 mil foram mortos);
• “Sabotadores econômicos”: muitos dos antigos moradores da cidades (aqueles que não morreram de fome em primeiro lugar) foram julgados culpáveis por sua falta de capacitação agrícola.
Os prisioneiros desses grupos poderiam parar em campos de extermínio, onde eram brutalmente assassinados através de tortura ou objetos cortantes, com a intenção de economizar munição. Entrentanto, também paravam em presídios que possuíam suas próprias regras.
Os prisioneiros eram alojados e acorrentados em condições precárias. Relatos afirmam que eram agredidos até que confessassem seus crimes. Sendo agredidos pelas mais diversas formas, muitos inocentes acabavam inventando histórias para que a tortura cessasse.
Haviam "médicos" que eram treinados para injetar vitaminas nos prisioneiros torturados, com o intuito de fortalecê-los para que pudessem sofrer mais torturas. A alimentação era tão precária que tiveram de optar por comer insetos, ao lado de cadáveres.
Músicas tocavam o dia todo, com o intuito de disfarçar os gritos dos condenados.

"Preferimos matar dez do que deixar um só inimigo" - Pol Pot
A morte de vietnamitas na fronteira com o Vietnã gerou uma invasão no dia 25 de dezembro de 1978 por parte 150 mil soldados vietnamitas, dizimando o exército kampucheano em cerca de duas semanas.
Apesar de um tradicional temor por parte dos cambojanos de uma invasão vietnamita, desertores do Khmer Vermelho auxiliaram o Vietnã e, com sua aprovação, tornaram-se o núcleo da nova República Popular do Kampuchea, repudiada pelo Khmer Vermelho e China como um "governo fantoche".
Ao mesmo tempo, o Khmer Vermelho se retirava em direção ao oeste e continuava a controlar áreas próximas à fronteira tailandesa pela próxima década. Tais áreas incluíam Phnom Malai, áreas montanhosas próximas a Pailin nas Montanhas Cardamom e Anlong Veng, nas Montanhas Dângrék.
Estas bases do Khmer Vermelho não eram autossuficientes e eram financiadas pelo contrabando de diamantes e madeira, assistência militar da China por intermédio do exército tailandês e alimentos de mercados através da fronteira com a Tailândia.
A China, os EUA e os países da ANSA patrocinaram a criação e as operações militares de um governo-em-exílio cambojano conhecido como o Governo de Coalizão do Kampuchea Democrático, que incluía, além do Khmer Vermelho, a republicana FNLPK e a monarquista ANS.
Em 1981, o Khmer Vermelho chegou ao ponto de renunciar o comunismo, mudando a ideologia em direção ao nacionalismo e retóricas antivietnamitas. Porém, isso pouco significou, como nota o historiador Kelvin Rowley, “a propaganda do PCK sempre invocou apelos mais nacionalistas".
No entanto, em 1985, o Vietnam declarou que completaria a retirada de suas forças do Camboja em 1990 e o fez em 1989, tendo permitido ao governo lá instalado a se consolidar e ganhar força militar suficiente.
O governo cambojano pró-Vietnam e o governo de coalizão rebelde assinaram um tratado em 1991, que exigia eleições e o desarmamento. Porém, em 1992, o Khmer Vermelho boicotou as eleições e, no ano seguinte, rejeitou seus resultados.
Em 1997, um conflito entre os dois principais participantes na coalizão governante fez com que o príncipe Rannaridh buscasse o apoio de alguns dos líderes do Khmer Vermelho, enquanto se recusava a negociar com Pol Pot.
Isto resultou em sangrentas rixas faccionárias entre os líderes do Khmer Vermelho, finalmente levando ao julgamento e à prisão de Pol Pot pelo Khmer Vermelho. Pol Pot morreu em abril de 1998. Khieu Samphan se rendeu em dezembro.
No dia 29 de dezembro de 1998, os líderes remanescentes do Khmer Vermelho se retrataram pelo genocídio nos anos de 1970. Em 1999, a maioria dos membros já havia se rendido ou sido capturada e o Khmer Vermelho definitivamente deixou de existir.
A maioria dos líderes ainda vivos do Khmer Vermelho vive na área de Pailin ou estão escondidos em Phnom Penh.
Desde 1990, o Camboja vem gradualmente se recuperando, demográfica e economicamente do regime do Khmer Vermelho, apesar das cicatrizes psicológicas afetarem muitas famílias e comunidades de emigrantes cambojanos.
Note que o Camboja tem uma população muito jovem e, em 2003, três quartos da população cambojana era jovem demais para se lembrar da era do Khmer Vermelho.
Os membros desta geração mais jovem sabem do Khmer Vermelho apenas através de relatos de pais e de pessoas mais velhas. Em parte, isso se deve ao fato de o governo não exigir que os educadores ensinem as crianças sobre as atrocidades do Khmer Vermelho nas escolas.
Entretanto, o Ministério da Educação do Camboja aprovou planos para que fosse ensinada a história do Khmer Vermelho nas escolas a partir de 2009. Isto já está acontecendo.
Recomendações: A máquina de morte do Khmer Vermelho, Primeiro Eles Mataram Meu Pai
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