Os dados bancários dos dois principais grupos que controlavam o Milan em 2017, Rossoneri Sports Investment Luxembourg () e Rossoneri Champion Co () foram divulgados recentemente. Nessa thread, vamos contar como os chineses 'perderam' o controle do clube para o grupo Elliott.

Inicialmente, é bom darmos um contexto para quem não acompanhou a época do #Closing: O Rossoneri Sports Investment foi um grupo criado pelos chineses no país de Luxemburgo (paraíso fiscal), para transferir recursos para a Itália sem sofrer sanções do governo da China.

O grupo de Yonghong Li era bem maior antes da compra do Milan. "O que houve?". Um decreto do governo chinês, publicado na época das negociações, limitava o investimento de capital no exterior (Itália no caso). Isso levou a muitos acionistas desistirem da ideia de comprar o clube.

Do outro lado, Berlusconi pressionava Yonghong Li pra comprar o Milan: ou pagava o valor exigido na data limite (Abril de 2017) ou ele iria procurar outro comprador. O resultado? Yonghong Li, agora sem seus principais acionistas, recorreu a um empréstimo do grupo 'Elliott'

As contas oficiais do clube apontam que o valor emprestado pelo grupo Elliott ao Milan (leia-se os chineses) foi de 200 milhões de euros.

Desta quantia, 120 milhões deveriam ser pagos em 1 ano e o restante de forma parcelada (10 milhões de euros).

"Por que parcelas de 10 em 10 milhões?"

Um dos termos firmados no contrato de empréstimo com o grupo Elliott dizia que a Rossoneri Sports Investment não podia deixar o clube acumular débitos, necessitando sempre de uma 'injeção' de capital para manter as contas em ordem.

Não entendeu o contexto? Vamos lá:

- Imagine que você emprestou um dinheiro a alguém que está com dificuldades. Obviamente, para ter o seu valor 'recuperado', é preciso que a pessoa que você emprestou a grana tenha uma melhora na sua saúde financeira, certo?

Agora imagine que essa pessoa passou a acumular mais dívidas atrás de dívidas. Fica mais difícil imaginar seu dinheiro retornando, não é? O grupo Elliott queria garantir que o Milan melhoraria suas contas, para que consequentemente o Yonghong Li pudesse pagar sua dívida.

PONTO DE VIRADA

Yonghong Li não estava conseguindo pagar o empréstimo feito e os juros só aumentavam. A dívida, que já era enorme, aumentou ainda mais quando os chineses precisaram fazer um novo pedido de crédito ao fundo Elliott, que dessa vez impôs uma cláusula severa (1/2)

A cláusula era: se Yonghong Li não fizesse trimestralmente uma injeção de capital no Milan (mantendo as contas em ordem), a Rossoneri Champion Co iria adquirir automaticamente toda a cota de 99,93% das ações do clube como 'forma de pagamento'.

Em Junho de 2018, Yonghong Li não cumpriu uma das injeções de crédito no clube e o grupo Elliott teve que 'cobrir' esse pagamento (de aproximadamente 23 milhões de euros). Nas 72 horas seguintes, o fundo americano liquidou todas as ações dos chineses e assumiu o controle completo

como previa exatamente a cláusula do segundo empréstimo feito. O valor corrigido (com juros) pago pelo fundo Elliott ao Milan no período foi de 32 milhões de euros.

As ações do Milan foram divididas em 12 mil partes

11.999 da classe A pertenciam ao grupo Rossoneri Sports Investment ()
1 ação classe B para o grupo Rossoneri Champion ()

Quando Yonghong Li deu o 'calote', o grupo Elliott comprou as 11.999 ações do Milan por 1 euro cada

Contando todos os empréstimos do grupo Elliott ao Yonghong Li, os americanos forneceram um valor total de 296 milhões de euros ao ex-dono do Milan (fora as injeções de $ nas contas) Isso apenas o valor bruto. Com os juros, os chineses teriam que pagar mais de 662 milhões de euros

"E quanto o grupo Elliott investiu no Milan de 2018 até hoje?"

Desconsiderando os empréstimos feitos a Yonghong Li, os americanos já injetaram nas contas do clube mais de 403 milhões de euros

Não façam essa pergunta: "Nossa, tanto dinheiro e por que o time não se arruma?!"

O Fair Play Financeiro impede que os donos injetem dinheiro nos seus clubes para financiar o mercado do mesmo. Todo jogador que o Milan ou qualquer outro time compra, é pago com recursos próprios.

E para onde vai esse dinheiro?

As injeções de capitais servem para cobrir os custos operacionais do clube, bem como a regularização das suas contas. Você provavelmente já leu que o Milan fechou temporada X com -90M de balanço, né? Imagina sem injeção de capital? Seria 10x pior

Agora as contas finais:

De 2017 pra cá, somando os empréstimos aos chineses + injeção de capital no Milan, o grupo americano 'Elliott' já investiu 603 milhões de euros no clube.

E se não fossem eles? Amigos, o Milan estaria hoje falido e na Série D italiana (sem exageros).

Fim da thread. Esperamos que tenha ajudado a muitos torcedores entenderem a realidade financeira do clube e o que se passou durante a gestão chineses (2017-2018) até o momento de transição. Futuramente faremos podcasts abordando ainda mais o tema. #ForzaMilan